2020 – o ano em branco

 18/03/2020

Foi sem ensaio, sem preparo, desde aquela quarta-feira não saímos de casa, meu marido e eu.

Estamos em guerra, como os governantes se referem a pandemia. A guerra é contra inimigo oculto, mas que existe e pode ser fatal.

Notícias sobre a Covid e política são desencontradas, estúpidas, incoerentes. Chega como uma enxurrada imagens e mentiras fabricadas, há que se saber separar o certo do errado, quem sabe?

Celular, Internet, computador, televisão: sem sair de casa temos acesso ao mundo com suas calamidades, a um toque do controle desfilam banalidades, outro mais e lá vêm amenidades. A escolha é sua.

A casa virou nosso tudo.

Aqui durmo, acordo, cozinho, como, lavo.

Choro, rio, mar e cachoeira.

Brigo e brinco. Nunca mais pulseira.

Meus afetos, como meus alimentos, vão se depurando. Reconheço e separo os essenciais dos supérfluos.

Quem amo, amo mais, mais falta me faz. Já chorei de saudades dos netos, por que será que a gente sente tanta falta desses pequenos?

E já é junho, dia 16. Nada aconteceu. Aqui tá tudo bem, espero que aí também. Fica bem. Fica em casa.                                          

12/07/2020

O que amanhã será diferente de hoje? Agora todo dia é dia inútil fútil útil, só depende de mim.

Não é verdade que nada aconteceu. Quantos planos e sonhos foram estilhaçados!

Quantos bebês nasceram sem que avós e tios pudessem conhecê-los! Quantas mães choraram sozinhas exaustas sem ajuda!

Quanta gente perdeu o emprego, a saúde, perdeu o juízo.

Quantos negócios faliram, falharam, fecharam?

Quantos ficaram doentes, quebraram a perna, descobriram um câncer.

Quantos morreram de Covid e de tudo o mais que não entra na conta. E quantos ficaram sozinhos sem poder se despedir.

Aqui no meu canto soube de tudo isso, de histórias, casos e situações difíceis e bem ou bem mal tudo passa. Cada um aprende a cuidar das suas feridas e angústias, cada um encontra um meio de seguir respirando.

Nuvem de gafanhotos, tufão, chuva de granizo, peste... Quando o mar se abrirá e o povo caminhará livre? E mesmo assim, quem tem visto nestes dias os pores de sol mais incríveis? O céu vai rosando certamente por perceber tanta gente rezando.    

Reconheço a cada instante o milagre de continuar sã e de relativo bom humor, mesmo sem previsão de nada, nenhum plano, absolutamente nada no horizonte. 

21/12/2020

Só se fala em vacina, a salvação da pátria se anunciando.

Já creio em tanta coisa, fé de mais não é demais.

E no mais, tudo menos. Rotina morna, mesma lesma lerda.

Já ponho o pé pra fora, com receio e bloqueio.

Hoje começa o verão quente fervente, tanta gente ausente.

Dia voa, mês se arrasta, ano não passa, 2020 será lembrado como uma névoa devoradora de sonhos.

Continuo precisando de proteção.

Anjos arcanjos serafins querubins, ajudem a gente, facilitem o trabalho divino, agora é a hora, mandem o mal embora.

Agradeço a você que esteve comigo.

Coragem.

Fica bem.

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