LAR DOCE LAR

 

Tarde escura, a chuva anunciada chegou mais mansa do que ameaçava.

Este clima, agora, me dá um tremendo alívio: não preciso nem quero ir a lugar algum e posso continuar em casa, na paz, fazer o que bem entender e o melhor, não fazer.

Acho que é a maior recompensa que a idade traz. Posso dispor do meu tempo sem obrigação de, não tenho mais trabalho a espera ou filho pequeno para cuidar.

Na verdade, esta é uma das raras e deliciosas sensações, estou tranquila justamente aonde quero estar, sem o constante tormento de achar que deveria estar em outro lugar, ou amargando o desesperador “o que estou perdendo” ...

Escolher fazer nada numa tarde chuvosa é fácil. Difícil é querer fazer o mesmo, ou seja, nada, num domingo de sol e não aproveitar o dia lindo, com o sol fervendo calçada e ideias. Ultimamente o calor aumenta exponencialmente minha preguiça, pensar em sair me dá calafrios.

Explico: não moro perto de um parque ou do clube, é necessário um carro para chegar.

Em um memorável domingo de sol meu marido optou pelo clube, pegar uma piscina, há quanto tempo não vamos! Lá chegando, é preciso estacionar. Estacionamento lotado. Ficamos parados como numa caçada, aguardando um ruído, um movimento para atacarmos a vaga. Ufa, conseguimos!

Todos tiveram a mesma gloriosa motivação, é preciso aproveitar este dia lindo.

Tarefa seguinte: na área da piscina, encontrar um lugar ao sol, mas com sombra.

Caçada continua, olhares como radares para detectar alguém se levantando, juntando chinelos, secando crianças. Chego perto, me prontifico a calçar a sandália no menorzinho, o pai me olha desconfiado. Saio de perto, outro casal rapidamente ocupa o espaço.

- Já estou com fome, que tal comer alguma coisa? - meu marido sugeriu.

Tarefa seguinte: comprar suco e aquele folhado delicioso rapidinho, não queremos almoçar de verdade, sentar agora no restaurante e perder tempo. Queremos aproveitar o dia!

Até que a fila andou rápido, acabou o gelo, só sobrou sanduiche natural, tudo bem, não viemos aqui para comer.

A área da piscina esvaziou, o vento e as nuvens escuras assustaram os banhistas.

- É perigoso entrar agora, podem vir raios!

Voltamos ao estacionamento, todo mundo querendo sair ao mesmo tempo, um caos.

Paciência exercida, esgotada, hora de sumir dali.

Chegamos em casa debaixo de chuva não prevista, ainda bem que não houve alagamento e quedas de árvores pelo caminho.

Até o próximo domingo de sol!

Lar doce lar!