Caminhada pelo bairro
Antes de começar oficialmente o inverno, o frio já havia enviado arrepios, alertando que era chegada sua vez. Apesar do ar gelado, o sol brilhava sabendo que estava agradando e o céu exibia seu azul mais intenso. Além disso, chuvas recentes lavaram árvores e minhas prediletas manacás da serra e ipês competiam espalhando cores e flores.
Não resisti! Juntei meus ossos encolhidos e músculos
preguiçosos, sacudi preguiça, ativei a boa vontade, calcei meias vesti casaco e
lá fui pelas mesmas ruas de sempre.
Era meio-dia, hora de levar ou pegar crianças na escola, e
assisti a um verdadeiro desfile de moda caipira, com meninos e meninas exibindo
chapéus de palha, camisas xadrez, vestidos rodados, bigodes e lenços, tranças e
babados. Mães e crianças ansiavam por olhares e elogios, fui distribuindo e
colhendo sorrisos divertidos, tímidos, agradecidos, senti cheiro de pipoca na
porta da escola, de churrasco vindo do restaurante, do milho verde na esquina, era
uma festa espontânea colorida e animada.
Não era preciso ter convite, comprar ingresso nem esperar em
fila. Única exigência era estar presente inteira e deixar os sentidos nortearem
o caminho.
Mais duas quadras e o cenário se transforma, crianças e
escolas ficaram pra trás, agora ando por ruas de comércio popular, entre
pedintes envoltos em cobertores, barracas vendendo fruta, bar com mesinhas na
calçada exalando cheiro forte de fritura e conversas animadas.
Lojas miúdas e médias oferecem mais que o básico: comida
congelada, grãos naturais, barbearia, cabelereira, petshop, Oxxo que brotou
durante a noite, academia, clínica dentária, estética, padaria, ponto de jogo
de bicho, de lotérica, farmácia, mercado, floricultura, loja de sapato, de
roupa... Nem precisa comprar, tudo é oferecido pra quem se dispuser a escolher,
pagar, levar.
Agora presto atenção nas placas, no nome dos negócios.
Nomear é criar algo que não existia, é condensar forma e conteúdo e provocar o
freguês, no mínimo gerar curiosidade.
Aparece de tudo. Dos mais comuns, diretos e eficazes como
Barbearia do Seu Zé, Panificadora Estrela Santa Cecília aos criativos Padaria
Senhor Pão, Clínica Dentária Evidente, Belos & Belas Salão de Beleza, Não +
pelo (depilação), Akidasena Loterias, Petshop Esteticão, restaurante Bon Mangé,
Carnívoros Steak, até os campeões Oui com Uai quituteira, Brechó Agora é meu, e
as inesquecíveis antiguidades Minha Avó Tinha e Presente do Passado.
A rua é uma festa!
Só é preciso, antes de tudo, olhar o chão, que é duro,
áspero e mais próximo que se imagina quando se está olhando pra cima...
Adorei ! Ficar atento ao que nos cerca é um ótimo e interessante exercício !
ResponderExcluirAmei suas impressões, Ita, o último parágrafo então, toca no peito da gente. Parabéns.
ResponderExcluirJ&E, só não tocou no peito porque pus as mãos primeiro!
Excluir👏👏
ResponderExcluirMaravilhoso / Celso bogorotty
ResponderExcluirCelsinho, saudades de andar por aí com você!
ExcluirAdorei. Tudo tão simples e prazeiroso.
ResponderExcluirComo sempre Ita você encontra beleza em tudo que vê.
ResponderExcluirSandra Hreiz Grunberg
Sandra, há que se educar o olhar, é um aprendizado também!
ExcluirExcelente Ita. Gostei muito. Parabéns. Laerte Temple
ResponderExcluirObrigada, Laerte
ExcluirIta, voce faz o corriqueiro virar especial! Any
ResponderExcluirAny, o corriqueiro é o que completa as horas, os dias, a vida...
ExcluirQue passeio gostoso voce nos proporciona com esse texto.Adorei.fanyn
ResponderExcluiraguarde novos roteiros, Fany
ExcluirParabéns Ita, como sempre esbanja sua capacidade literária com maestria e sensibilidade.
ResponderExcluirEsqueci de por meu nome
ResponderExcluirBerti
Berti, obrigada pelo comentário!
ExcluirLindo querida Ita. Adorei o “tour” por Santa Cecília. Mas Fiquei intrigada com o último parágrafo. Você não “experimentou” o asfalto duro e áspero, não é querida? Beijos e saudades. Iafa
ResponderExcluirSim, Iafa, senti nas palmas das mãos e nos joelhos ralados... Passou, passou
ExcluirMais uma vez muito bom!!!! Adorei!!!! Consegui sentir os cheiros, ver as cores e ouvir os barulhos! Bj
ResponderExcluirNão coloquei meu nome na mensagem acima . Mônica
ResponderExcluirMônica, obrigada pela companhia!
ExcluirParabéns, Ita! Passeando e saboreando.
ResponderExcluirEurídice, obrigada!
ExcluirIta adorei! Maravilha saber aproveitar cada momento!
ResponderExcluirOps, Debora
ExcluirObrigada, Debora, volte sempre!
ExcluirMuito bom!! Só cuidado com o chão!! Bj Frida Neusa
ResponderExcluirPois é, Fri, é duro e áspero mesmo!
ExcluirAdorei Ita. Vc faz brotar uma história do cotidiano, que não prestamos muita atenção! Parabéns!!♥️
ResponderExcluirIta só você para me fazer substituir o meu walking & sharing pelo seu walking & writing😀. Como eu gostaria de caminhar por Sampa com você, juntando nosso interesse pelo movimento urbano. Obrigada por mais esse texto Maravilhoso!
ResponderExcluirMaravilhoso é o seu comentário, Ingrid! Gostei: walking & sharing
ExcluirMuito bom, Ita, sair um pouco para a crônica é uma ótima pedida,
ResponderExcluirDaniel, obrigada pelo incentivo!
Excluirmuitoo bom...👏👏👏 adorei " os nomes dos negócios"..
ResponderExcluirTereza Fattori
Dar nome é assunto sério, Te
Excluirespetacular texto, parabéns 👏👏👏👏👏
ResponderExcluirOi Ita. Foi realmente otimo caminhar com seus passos e seus olhos pelo seu bairro. Leve e gostoso !!
ResponderExcluirMalu - comentário acima
ExcluirMalu, obrigada pela companhia!
ExcluirAdorei, amiga! A rua realmente é uma festa. Beatriz
ResponderExcluirCabe a cada um participar da festa!
ExcluirMuito atenta vc!! Impressionada; a gente passa por tudo isso, mas às vezes não vemos nada!! Parabéns pela capacidade de ver e enxergar e depois transformar num belo texto!! Bjsss Ruth prima
ResponderExcluirPrecisamos andar mais, Ru!
ExcluirE A TODOS OS Anônimos, OBRIGADA PELOS COMENTÁRIOS CARINHOSOS.
ResponderExcluirUau que talento para escrever!
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