humanos

 

guerra erra terra berra
urra rússia ucrânia
terror já fez um mês
mal banalizou de novo
como sempre
como mortos de covid
fecha jornal muda canal
cada um preocupado com seus botões
insensível humanidade desumana
demasiadamente humana
 
cabeça mede um palmo
numa palma toda lama
alma clama lateja mente
do alto cabelos se atiram
desalmados fracos destemidos
como se muitos ainda surgissem
abaixo do escalpo algo escapa
pensamento escorre pelas rugas
(que não encontre verrugas)
novas brandas antigas profundas
horizontais verticais
linhas salientes
amparam manchas gravadas na pele
cravadas no rosto
 
sobrancelhas cílios pelados
moda exige taturanas sombreros
pelo sim pelo não
pelos se encontram
emolduram boca
buço espesso realça sorriso
é bem isso
lei da troca fazendo troça
 
olhos janela d’alma
já viram tanto 
nada mais os espanta
enxergam mal de perto
pior de longe
distância média embaça
lentes multifocais corretivas
em busca do horizonte perdido
moscas voadoras colonizam sem licença
voam presas sem pressa
dispostas a permanecer
crescer e se multiplicar
vista seca arregalada
busca alívio no colírio
 
nariz funciona
sente tudo até demais
alho frito na cozinha
diesel fumaça no ar
podre estragado fedido
e também cheiro bom
árvore pós chuva
café recém coado ecoando pela casa
lavanda suave dançando em azul
odores ardores aromas amoras amores
 
dentro da boca outro universo
cada dente uma sentença
aguarda em cadeiras de dentista
obturação tratamento canal coroa
prótese extração implante
dor gasto desgaste dentina
gengiva ativa nada passiva
incha enxague bochecho bochecha
chega
só de pensar arrepia
 
orelhas não param de crescer
sobressaem descobertas
cadê cabelo que as encobriam?
brilham despencam pelas laterais
brinco preso pesa dilata furo
lóbulos esburacados engolem diamante
presente no passado do amante
 
cabe guerra travando tamanha batalha?
no espaço de um palmo
pessoa se tromba em problema
se afoga no musgo
se engasga num espasmo
num espanto
enquanto
até quando

Comentários

  1. Realidade escrachada, nua, crua. Contundente.
    Parabéns ITA Liberman.

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  2. Muito HUMANO mesmo querida Ita! Verdade dolorida e triste... Parabéns por se expressar tão limpidamente. Bjos

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  3. Como Ita domina a arte de usar as palavras para descrever o paradoxo da "humanidade". Mais uma vez, parabéns.

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    Respostas
    1. Daniel, agradeço pela sua atenção e comentário.
      Teremos salvação?

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  4. Respostas
    1. Dorothea, grata pela atenção.
      Comovente mesmo é degustar um bom doce.

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  5. Respostas
    1. Flores e coração pra mim?
      A humanidade não tá perdida!
      Tks, Teté

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  6. Parabéns, Ita! Realidade tão triste, retratada com muita sensibilidade por você. Bj Beatriz

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    Respostas
    1. Bia, querida
      sensibilidade é sua de encontrar a minha
      obrigada pelo carinho

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  7. Com sensibilidade e firmeza voce mais uma vez nos coloca de frente a nos mesmos !!!! ! Muito bom !fanyn

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  8. Respostas
    1. Deixe seu comentário, é muito bom saber o que você sente ao ler meu texto!

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  9. Marlene Szpigel: triste realidade atraves de texto .força de palavras.parabens querida ita

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  10. Ita, adoro como vc pincela com palavras o claro/ escuro, a sombra/luz da vida cotidiana
    bj Sue

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    1. Sue querida, de cores e luzes é você quem entende! Obrigada por ver isto aqui!

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