Pai, quanta saudade
O ar cansado do meu pai velho e doente
Me deixa pequena, impotente
Já não conto mais com sua mão
segura
Hoje ela me procura, trêmula
e murcha
Ficou em algum tempo perdido
O homem forte e decidido
Que levava a menina na festa
Hoje o que resta é espera na
sala de espera
Pai, você me conhece mais que
eu
Sabe até mesmo onde doeu
Finge que já passou, não foi
nada
Por mim, dá uma gargalhada
Como será o domingo sem ele?
Uma noite qualquer, um dia,
uma hora?
Não quero estar se ele
estiver fora
Não posso ficar se ele for
embora
Pai, sei que te reencontro um
dia
E então vamos até patinar
Voar como os garotos da praça
Girar, rodar e achar graça
Eu tenho um pai. Ausente, distante, alheio. Mas esse não é o meu pai. O meu é presente, presentes, as boas coisas, a boa mesa, as boas roupas, sempre vinham com ele, sempre soube que eram por ele.
Agora ele está aqui, mas não
ouço sua voz, não cruzo seu olhar que está perdido e muito além do que posso
alcançar.
Sua mão trêmula segura a
minha, sua respiração arfa descompassada, acompanho impotente a sua agonia.
Ele não vai, ele não fica. O que tem ainda pendente que o impede de partir, o que haverá que não o deixa ir?
Creio em D’us com todo meu
ser. Meu pai também. Tão temente tão crente...
Creio que nada acontece sem que Ele decrete. Por que Ele não se lembra do meu pai? Pai, lembre-se do meu pai. Não o deixe sofrer, devolva-lhe a paz, dá-lhe luz, ampara, protege, cuida do meu pai.
Cada vez que estou ao seu
lado me sinto confortada. Ele está comigo. Sua risada e seu jeito bonachão
ecoam na minha frente, é mais que lembrança, uma parte de mim.
Dia após dia acompanhei-o na loja, fizemos vitrines, comprávamos, vendíamos, os milhares de cafés tomados na padaria, a praça do meu pai, onde ele era o Seu Manoel, conhecido e querido por todos.
Paizão, como é triste te perder. Como posso deixar sua chama se apagar e concordar com isso? Como posso assistir o final de uma vida que me deu a vida e tudo de bom nela?
Pai, meu amor, meu coração e minha alma estão com você. Já pedi mil vezes ao meu anjo que se una ao seu anjo pra te ajudar na travessia difícil. Pai, não tenha medo, nós sempre estaremos juntos, o que não posso é te ver assim.
Você me vê, me escuta, não me atende, ou não me entende? Você não quer ou não pode mais me entender? Pai, fique em paz, a noite pode assustar, mas todos estarão lá e você sempre estará comigo, no fundo dos meus melhores pensamentos e ações.
D’us, ele sempre acreditou no Senhor, ajude-o nesta hora. Já pedi tanto para o Senhor salvá-lo, como posso pedir? O que devo pedir? Perdoe-me se peco por pedir que o leve de uma vez.
Uma filha não deve pensar
isso, muito menos dizer, quanto mais escrever no computador, assim com todas as
letras sem se arrepender e sentir remorsos?
Não tenho remorso, não sinto culpa, fiquei com meu pai cada dia que
pude, porque quis, porque gostei, porque me faz bem estar com ele.
Sempre nos quisemos bem, temos um carinho tão profundo que é palpável e me deu confiança na vida e nas pessoas.
Meu pai me trata como princesa, ele é o meu rei. Quantas histórias ele me contou da sua infância, da sua vida toda.
Pai, eu adoro você. E eu sei que você me ama também, nem precisa dizer.
Meu pai morreu no
dia 11 de setembro de 1998
Lindo, lindo, mami. Chorei. Feliz e triste por ler e lembrar.
ResponderExcluirEle te amava, Rafa
ResponderExcluirEle nos amava.
Ita querida, também chorei...Muito lindo...
ResponderExcluirEssas vivências tão especiais com nossos pais tão queridos e amados convivem com nossas lembranças em nossos corações eternamente...
Beijos querida
Iafinha, fases tão difíceis, inevitáveis e inesquecíveis.
ExcluirLindo Ita! Comovente!!!
ResponderExcluirOi, Bia
ExcluirFoi tão sofrido mesmo!
Como todo despedida de quem amamos!
Lembranças nunca morrem. São eternas, assim como seu amor pelo seu amado pai, irmão da minha querida mãezinha, meu tio... Lindas, belas e tristes palavras!!
ResponderExcluirNossos pais amados!
ExcluirLindo e emocionante !
ResponderExcluirFri, quem passou por essa dor entende, né?
ExcluirBj
Fri, quem passou por isso entende, né?
ResponderExcluirBj
Lindo Ita, dá pra sentir vc ao lado de seu pai permitindo que lê se solte e vá...
ResponderExcluirSue
Oi, Sue
ExcluirComo é difícil este desapego
Ita, me emocionei bastante. Me lembrei do meu... Gosto do jeito como você escreve, as vezes acho que se eu fizesse isso seria meio psrecido, mas não tão bom...🌹🌹
ResponderExcluirObrigada, Malu
ResponderExcluirVc faz tanta coisa bem feita, escrever não seria diferente